quinta-feira, 29 de abril de 2010

O trinco da porta


Como posso falar de meus medos
Sem falar dela, que de tão cruel,
Encurrala-nos a consciência,
Amedronta nossos íntimos
Sussurra gelidamente frases cruas
Que não queremos ouvir.
A Solidão, errante e terrível,
Por um tempo mal do século
Pelo hoje uma inimiga camuflada,
Assombra o Homem e os seus.
A ausência de amor, ou de alguém
Assola a qualquer um,
E me faz relembrar um tempo
Em que sentia na pele,
Os sinais físicos dessa maldição.
Lembro deste mesmo tempo ido,
Que a hora mais temida,
Era a de abrir e fechar
Minha porta da frente
Pois a solidão muda
Utilizava seu eco carrasco
Para fazer o som do trinco da porta
Percorrer a casa sorrateiramente
E voltar a meus ouvidos
Revelando, que lá Ela imperava.
Concordo com aquele
Que precisa de momentos de solidão
Pois estes não me são tão raros
Quanto necessários
E neles, as vezes escrevo
Sobre os muitos “Eus”
Que existem e já existiram,
E que continuam povoando
Esse macrocosmo que sou eu,
Repleto deste próprio amor
Que busca a felicidade.

Um abraço teu no amanhecer


Minutos que parecem horas
Horas que andam para trás
A ansiedade toma meu universo
E sua complexidade meu entendimento.
O contemplar deste meu tempo
Faz-me compelir a sentimentos não meus
Exagerar em explicações
Inventar metáforas, corrigir paradoxos.
Parábolas me vêm a cabeça,
Para compensar a solidão,
Que de tão cruel, dá seus sinais,
E exige seus subterfúgios.
Eis que Eu, totalmente influenciável,
Divido meu mundo em amigos,
Que me contagiam com o entusiasmo,
E em meus pérfidos inimigos,
Que me lapidam com suas críticas.
Dentro de meu sono,
Onde imperam os desejos,
E com eles minhas inconstâncias,
Desfilam infindas fantasias
E a necessidade de estar junto a ti
E no fim desta noite,
Junto com o acordar do Sol,
Anseio pelo abraço teu,
Para completar meu verdadeiro amanhecer.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Polêmicas, Introduções e Intransivos


E quanto ao amor,
O que me resta dizer ?
Vários sábios, outros poetas,
Ou meros menestréis do orgulho,
Que se enaltecem,
Com a embriaguez de seu sentimento,
Ou desespero de sua solidão,
Definem, redefinem, moldam,
E tentam achar o mais sublime significado
Para algo que não se explica.
Pelo que já li, e ouvi dos outros,
A busca de todos,
Sempre será a direção do Amor.
Outros autores, já de outrora,
Que até já mudaram sua própria linha,
Classificaram-no em três tipos distintos,
Que não cabe à mim comentar,
Ainda mais, porque não acredito
Neste tal efeito numérico.
Acredito que o Amor seja algo
Mais sublime, mais invisível, menos impossível,
Como a fé, por exemplo,
Onde cada um, tem a sua e
Por ela é responsável, logo praticável,
E se não for praticável,
Não será verdadeira, logo não existirá.
Diferente do óbvio, ainda porque possui porcentagem
O Amor exige um dono para ele
Confundindo ainda mais nossa cabeça,
Pois se este é para si próprio,
Será confundido com o egoísmo,
Se este for para alguém,
Corre o risco de se tornar ilusão.
E também não quero acreditar
Nos amores sem sorte,
Que povoam a imaginação
Dos compositores, dos poetas infelizes
E transcorrem nos versos
Que a maioria dos comuns adora,
Para não acender a dúvida possível,
De transformar o meu Amor
Em algo traduzível.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O amálgama da perfeição


Seguindo seus preceitos
Movimentos cíclicos perfeitos,
Demandam exuberância,
E minúncia dos olhos rigorosos.
De artesão primordial,
Quem somos, senão telespectadores,
Que além de admirar,
Sofremos as penas por tudo alterar.
É claro, que o homem,
Explica tudo o que acontece com suas ciências,
Mas é incapaz de realizar
As obras da Natureza.
As rochas que usam
Para identificarem seus corações,
Crescem, alteram-se em pó,
E em conjunto com o vento,
Eis o ar em supremo movimento,
Transforma-as em areia, dando poderosos açoites.
E em escuros, negros dias,
Das chuvas que descem dos céus que choram,
Brotam a vida e a serenidade
Ao coração daqueles que amam.
E da terra vêm os seres,
Os visíveis e invisíveis que formam
A encantada biologia.
E relembrando o tempo
Em que éramos simples,
E cheios de inocência a admirar,
A luz divina que atravessa a água suspensa,
Prismando-se infinitas cores
Para a alegria
De nosso coração ainda infantil.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O mérito de Pandora


Temperamentos exaltados,
Ânimos imperativos,
Escolhidos estes julgadores,
Nas alturas de suas verdades.
Que juízes possam ser estes,
Que indagam e indignam,
Surtam dentro de seus contextos,
Desalinham as Harmonias,
E certificam suas razões
No temor alheio às Fúrias.
Ao homem foi dado o calculo,
O ato, a geometria e a sabedoria.
À mulher foi dada a emoção,
A transformação, a energia, a devoção.
O homem racionaliza, precisa, constrói,
A mulher questiona, expande, educa.
O homem criou Deus,
Para sentir-se mais perfeito
E se proteger de si mesmo.
A mulher cria o Homem,
E a ele dá a base, os medos, a sociedade,
E submete-se ao efeito bidimensional do amor,
Onde o homem amado
Deixa de ser seu par
Para ser seu filho, sua extensão.
Essa complexidade indubitável,
Se predispõe de longa data,
Desde o tempo onde a culpa de Pandora,
Com sua natureza plena feminina,
Foi a causa de sermos
Seres tão finitos, extraordinários,
Que contamos historias, e
Para que nossos semelhantes
Tenham no que acreditar ...

domingo, 18 de abril de 2010

Melodrama parte 1 - A Névoa


Dúvida, inexistência, caos,
O fim da luz dos olhos do ser cansado,
Conspira-se com as confusões,
Acusações e desespero da ausência.
Caminha na corda bamba,
Esperando alcançar a outra extremidade,
Guiando-se pelo tato, adquirindo equilíbrio,
Este tênue, não-preciso,
Como o disfarce daquele que veste-se de gris,
Perto da fumaça dos vulcões.
O desejo de certeza,
Dentro da improbabilidade do sentimento alheio,
É a sua procura e seu mártir.
Como transformar em prosa,
O poema, já declamado, e cheio de entonação,
Das bocas dos que sofrem
A tortura heterogênea do amar.
Eis que a maior dor e desagrado,
É o amor não-correspondido,
Ou aquele que não pode acontecer.
É claro que na ilusão tudo é possível,
E ser óbvio, para os sentimentos é improvável,
O que podemos deduzir
Somando opiniões e pareceres
De fora de uma historia intensa,
Extremada e singular
É que o amor , símbolo que de quem vive,
Orgulho de quem ama,
Talvez cega o inocente,
Mas enche seu peito de coragem,
Para tentar o impossível.

As rosas de Beth


As estações nos trazem vida,
Compartilhando o que a Natureza,
A Mãe Eterna,
Tem por formação e singela propriedade
Em seus ciclos sazonais inexplicáveis.
E uma vez, há muito tempo,
Já fizemos parte dela,
Como seres mais tangentes,
Mas com nosso comportamento adjacente,
Vemos a cada dia sua simbiose,
Sua alternância, sua magnificência.
Nossa inconstância nos impede
Do olhar mais terno
Que nos une, nos evidencia,
Torna-nos imperfeitos, incapazes
De entender a lei das compensações.
Fora deste discernimento,
Criamos uma própria lucidez
Naquilo que desejamos
Ser o nosso ideal.
Mas as estações passam e repetem-se,
Os mundos criados, e as verdades alegres,
Transformam-se e se misturam
Junto com a brisa leve do mar e sabor de família.
E nos jardins do orgulho materno,
Um dia cavados com as próprias mãos
Já roídas pelo trabalho, dos dias já idos,
É que crescem as flores,
Que tudo vêm, contemplam,
Trazem a vida dentro de suas sementes,
E os presentes do futuro.
E lá ficam cálidas, plácidas, mudas
Existindo inteligentes
A observar a mudança dos tempos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A luz de um Amor


Experiencia própria,
Direção que guia o homem,
E impõe felicidade.
Pessoas procuram pelo Amor,
E cegam-se devido sua exaustiva jornada,
Pois passam por cima uns dos outros,
Estes muito passíveis,
De formarem seus pares perfeitos.
E nesta hora, a enganosa ansiedade,
Dá a este personagem,
O ser carente, assim como nascemos,
Um disface naquilo que ele vê,
Como o que acontece,
Numa casa de espelhos dislexos
Que no parque de diversão
Anima a todos
Exibindo suas próprias imagens distorcidas.
Mas indo a fundo,
Sem precisar em vocábulos radicais,
A busca do Homem,
Sempre será,
Enquanto conseguir ser humano,
A busca do Amor.
E àquele amigo de outrora,
Que se consumia de inveja,
Apenas por um fato contado,
Só lhe resta uma vaga imagem,
De um dia que já se foi,
E daquela historia
Dos cinco minutinhos infinitos
Que levaram pra explicar
A frase onde tudo começou ...
"Eu te amo".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A dor


Mistério, memória, causa.
Não importa sua origem,
Elemento que mais incomoda o ego,
E dá asas a astúcia daqueles
Que contam as histórias alheias.
Inspiradora, aos viciados em amor sem sorte,
Desesperadora, aos adeptos da felicidade,
Não nego que deva ser
O negro resultado de relações
Pertencentes somente aos dotados de emoção.
A maior expressão sinônima
Que acho para lhe dar significado
É senão, o termo contrário
Da realização da vontade.
Algo que nos diminue,
Para alguns mais imediatistas,
E fortalece para outros mais visionários.
Mas ninguém a quer,
E não importa seu motivo.
Dor que é dor, lembra sofrimento,
Lembra aquilo que não queremos
Ou poupamos sentir,
Ou que nos recorda algo que esta no nosso pesar,
Por alguma impossibilidade.
Variável termo, imparcial companheira,
Onde cada um, a sente singularmente.
Há quem finja, estar em momentos de pranto
Para se aproveitar das insubstancialidades dos outros,
E são esses os reais e miseráveis
Merecedores das dores do mundo.
Mas em seu fundamento,
Toda dor que é dor,
É constituída de uma falta,
De um algo que não lhe pentence,
Ou ludicamente trocando em miúdos
É a frustração de não termos aquilo
Que objetamos ser nosso prazer.

Os números


Questiono a mim mesmo
Sobre a possível origem dos números,
E num movimento regressivo
Procuro entender a razão
De tão perfeito código.
É claro que não quero criar
Com minha dúvida
Um clichê para desafiar os sábios de outrora.
Eis a charada, que conhecemos
Desde a infância numérica,
Que nos faz crescer
Em decorrer de anos contados,
Para formar a idade, quem dera a experiência.
Um nó me dá na razão,
Quando dentro da gramática difícil
De minha língua natal,
Encontro decassílabos que traduzidos
Têm significados únicos, no entanto turvos.
Oblíquos quocientes resultam
Em cima de tão cruel argumento
De questionamento humano,
Onde encontro a dor em algumas subtrações,
Força em minhas multiplicações,
Sempre adicionado minhas filosofias,
Dividindo opiniões.
Mas ainda acho,
Desculpando-me de minha soberba,
Que o homem criou os números,
Para poder contar seus desejos,
E os tornou infinitos,
Para nunca deixar de sonhar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os passos


Um a um, no movimento compassado
Como foi assim ensinado
São os passos que dou nessa vida.
Reluto por imaginar
Que uso os mesmos passos de rebeldia
Que meus pais usaram
Para com os seus pais.
É claro que não procuro espelhamento,
Nem razão para tudo o que faço.
Assisto meus filmes,
E procuro identificar meu dia-a-dia,
Sigo a rotina por mim escalada,
Achando que nada vai mudar.
É quando o repentino destino,
Faz brincadeiras de conseqüências,
E testam a minha perspicácia,
Minha astúcia, minha casca,
Que me defende de minhas fragilidades.
Quando era criança,
Ensinaram-me a temer a dor,
E a chorar quando caísse no chão,
Hoje penso, se talvez não chorasse mais assustado
Pelos escândalos maternos
E excesso de cuidados
Para criar a barreira entre o corpo e o chão.
E hoje desconfio até da normalidade,
Pois toda calmaria, se torna tempestade,
E na impetuosidade de minha persona,
Reajo com impulsão,
Sem ter muita certeza se completarei meu caminho.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Preferência



Eis que me simboliza
Todo o profano, o irreal e o lúdico,
Quem sou, desorienta o outro
Que julga, malicia e executa
As leis que ele mesmo criou e
Moldou-se, enfatizou e disciplinou-se.
Sou eu, o louco das ciências dos homens
Que muitas vezes visto-me de branco
Pra pressupor os pecados e perjúrios
Da indignidade vil das criaturas pensantes.
Sou aquele que sai nu, despido de pretensão
E que sente na pele a brisa gélida da infâmia,
O mau hálito das indagações da falsa moral,
E o ruído estridente do orgulho e da presunção.
Minha auto-confiança me trai,
E me faz subir em arvores de imaginação
Para poder tocar o céu
E sonhar com as nuvens.
Me faz sentir o poeta, o pastor e o pescador,
Para clamar versos livres alegremente,
Alimentar meus rebanhos com sonhos de liberdade,
E navegar em pequenos ribeirões caudalosos,
Contando minhas histórias, sorrindo,
Chegando no meu mar sem horizonte.
E nesse meu mar, já com o Sol querendo ir dormir
Estando de mãos dadas com meus companheiros,
Vamos caminhar na beira d’água,
Fazer fogueiras de amizade,
Cantaremos até chegar a Lua,
Branda, suave, pacífica,
Para brindarmos nossa invisibilidade
Que os homens da ciência não enxergam.
É por isso prefiro, minhas páginas
Meus desalentos, meus talentos,
Imaginações e esperanças.

A fala


Há quem diga
Que a palavra pronunciada
Torna-se o verbo que ninguém pode destruir.
Não sei se por ato falho
Discordo intensamente
Imediatamente.
Não sei se é porque
Sou dessas pessoas que muito falam
E por muitas vezes
Perco-me naquilo que falei,
Como se dentre esse exercício humano
Chamado oratória,
Eu mesmo tenha criado meu labirinto,
E meu Minotauro.
É lógico que algumas pessoas
São fúteis, ou melhor, superficiais,
Pois fútil pode ser também fugaz,
Momentâneo, ao mesmo tempo
Sua única realidade.
Mas é nas memórias que guardamos,
Livros e sabedorias,
Filmes e emoções,
Pessoas e sensações,
Canções, risos e lágrimas.
E quando lemos os velhos bilhetes
Das promessas de amizade infinita,
De amor eterno, percebo
Que o falado muitas vezes
Se propagou com o vento,
E o escrito apenas envelheceu
Para contar novamente as mesmas histórias.

domingo, 11 de abril de 2010

A velocidade da perfeição


Dentre os instintos existentes
O da sobrevivência se sobrepõe
Aos muitos outros possíveis e outros peculiares.
Menos que exagero, e mais que natural
Cada um tem uma função interligada
Que dá origem à complexas comunidades
Essas incontáveis, ilimitadas, sólidas, mutantes.
Não existe nada que não esteja interligado.
Não há relação sem uma co-relação,
Não existe um abismo que não tenho uma ponte.
Não há imagem que não tenha perspectiva.
Não existe desequilíbrio sem que haja compensação.
Tudo é uma arquitetura divina,
Uma construção suprema, sublime, perfeita.
Um fio que tece o complexo,
Uma linha que desenha o Universo,
Uma osmose adjacente de seres,
Interminável e fantástica
Fazendo a cada dia, uma contemplação
De como podemos descobrir
Que a evolução, suprema e impetuosa,
Está ininterruptamente presente
Em tudo aquilo que nossos olhos podem ver
.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Agradecimento


Aos meus amigos, queria agradecer
Por me ouvirem, me acalentarem,
Repreender e compreender,
E por muitas vezes fazerem “eu” me compreender.
Aos pessoais, queria poder dizer mais do que já digo ...
Pois a vida é curta, e nunca se sabe o tempo que se tem ...
Aos virtuais, agradecer por mostrar seus íntimos
O que a imagem poderia inibir de falar ...
E adoro todas as horas de longas conversas
E mensagens trocadas, dos risos com as chacotas,
E das novas caras que sempre aparecem,
Cheias de expectativas por conhecer alguém novo.
É claro que eles não sabem muito,
E nem precisam estar presentes de forma física.
A virtude de agradecer me foi dada,
Como um dom que caracteriza.
E por muitas vezes incompreendido
Pelos “por favor” e pelos “obrigado”
Que já tenha dito incondicionalmente.
Explicação essa, estranha aos ouvidos dos “comuns’,
Que diz que a força maior que temos
É a da gratidão, que constrói internamente,
Materializa laços invisíveis,
E sela amizades e corações ao seu.

A máscara


O que você pretende ver através de mim ?
Encontrar com o seus desejos
Ou quem sabe se auto promover
Em circunstancias duvidosas ?
Sou uma invenção humana
Mais que isso, uma determinação.
Sou condicional, psíquica, moderadora.
Mexo com os sonhos dos artistas,
E indico mistério, sedução e morte.
Nem conheço todas minhas finalidades,
Causalidades.
Também não tenho pretensão
De expor com audácia,
A probabilidade inventiva dos humanos,
Dizendo que todas as minhas funções sejam obvias,
Pois não são.
Escondo, camuflo com um doce e tênue véu
Os olhos do algoz, do apaixonado mancebo
E do artista insano.
E dentre tantos significados que possa ter
O único ao qual me enquadro
É na personificação da fantasia,
Na alegoria da mente que prefere
Turvar a visão do que encarar
A realidade substancial de frente.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Espelho


Quem sou, ora o que o espelho me diz
Apenas considero incerto
Falar conclusivamente
Que sei o que sou, onde estou.
Tudo é parte da substância física, heterogênea firmada
Em inconstantes pensamentos, semblantes confusos.
Funciono como um relógio de humores, sem respeitar
O andar das suas próprias engrenagens.
Em ternas horas me alegro
E ponho-me a escrever versos
Uns tão íntimos, que somente eu os compreendo,
Outros tão vagos, que não há quem os compreenda.
E em horinhas de dispersão, também escrevo versos dispersos
Que tentam celebrar os delírios dos sonhadores
Que consideram sólida toda a sua ingenuidade
E pulam de cabeça dos abismos dos homens formados.
Cruzando o fantástico, e exacerbando emoções.
Não me dê significados, para eu concordar
Pois minha unidade é defendida pela única coisa que tento impor
Minha opinião.
Respeite-me, é a única coisa que peço.
Assim poderei enxergar melhor quem sou,
Através do reflexo que causo aos outros.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sensibilidade


Defina os cinco sentidos
O que eles são capazes de mostrar
De enganar, iludir a si mesmos
E aos seus donos.
Frio, umidade, necessidade de proteção.
Olho pra cima e vejo a verticalidade da água.
Condensada em um céu todo gris,
Com uma brisa gelada,
Fazendo a pele arrepiar com seus assobios.
A vista não consegue definir a distancia.
O olfato fica turvo, e os ossos pedem aquecimento.
Isso tudo nos retrai
Fazendo buscar um calor que não é nosso.
Uma proteção envolvente
Como o abraço da pessoa amada.
Até a pele fica descorada com o clima,
E junto com ela a alegria fica mansa,
Pedindo um cobertor.

sábado, 3 de abril de 2010

As perdas do Caminho


Temos por péssimo hábito
Olhar tudo aquilo que perdemos
Durante nossa vida, nosso caminho.
É claro que é uma contagem inevitável
E até inesgotável, progressiva, cansativa
De doer na consciência e no coração.
Mas a mesma consciência poderia
Talvez num momento de misericórdia psíquico
Deixar que toda essa matemática
Nociva porém humana
E se comportar como os elementais da natureza.
Por exemplo as pedras, as arvores, a água.
Que alguns pensam ser imóveis,
Porém estão sempre em mutação.
Quem diria que as rochas tão caladas, letárgicas
Transformam-se em finos sedimentos que o ar pode levar.
As arvores que perdem as folhas, que marcam sua geração,
E renascem novamente em sementes, levadas pelas águas.
E até a própria água, que liquefaz seu caminho
Evapora e retorna ao mundo como chuva.
Assim é nossa alquimia
O que perdemos nada mais é aquilo que nos fomenta
Nos refina, nos semeia, e nos renasce em cada ciclo.
O caminho é aquilo que se trilha,
Aquele que os passos definem e traçam.
E seu final somente se dá naquilo que chamamos de existência.
Onde cada um se torna responsável por sua jornada,
Lembrando que a Historia costuma ser cruel
Com aqueles que nada fazem em seu próprio caminho.

Os Dez Dedos da Mão


Como primeira forma de contar
Noção das proporções que reconhecemos
E também funções onde encaixamos as pessoas,
São com as mãos que expomos alguns sentimentos.
Desde o amanhecer de sua infância
O homem usa suas mãos pra aprender a sentir.
Dedilha, toca, sente a pressão e o arrepio
Enumera as questões, e perde a conta de suas respostas,
Pergunta a si mesmo onde estava
E com o indicador faz a análise e a direção,
Mesmo que em alguns casos
Olhe pelo esquadro de sua janela
E limite sua visão àquele quadrilátero projetado.
Também em julgo usamos os indicadores
Acusando alguém e como diz o provérbio popular
Colocando quatro dedos contra si mesmo.
Despautério, que resume a inteligência ao coloquial.
Ao rezar juntamos as mãos
E em gestos de devoção e carinho
Levamos as mesmas ao peito
Imitando o maternal gesto reconhecido.
Quanto mais puder aprender sobre a anatomia
É com certeza que, na lembrança mais inconsciente,
Os maiores movimentos registrados na memória
São a flexibilidade e possibilidade
Que meus dedos sempre me propuseram
E refletiram na minha personalidade
Perseverante, ambiciosa, articuladora e possuidora
De uma essência etérea, não menos gasosa que a das intenções
Mas muito valiosa por ser toda ela própria.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Jejum


Pois bem, depois de passado este dia
Pergunto a mim mesmo o quanto importante pode ser
Um feriado de dia santo
Para aqueles que não se limitam
Em achar que seu jejum já os tornem santos
Sem mesmo se sacrificarem
Nem que seja sua frágil carne humana
Ou mais nobremente
Suceder à alguns caprichos de suas almas.
Talvez o ponto de referencia não seja o mais comum
Nem mais profundo, nem mais profano.
O que difere o santo do maldito, o justo do desequilibrado
Não sei, e nem a mim cabe julgar
Quero mais é me isentar de direções
De correções erradas, e acentuações impróprias.
Que seu parágrafo comece quando o meu terminar.
Que tenha nos tempos de falar e ouvir,
O entendimento e a coerência que num sonho talvez
Consigamos estabelecer isso como realidade.
Não diga tuas palavras como se tua oratória fosse divina
Pois o ser humano é falho e maravilhoso.
Inventivo, entusiasta, cheio de uma graça incomum aos animais.
E se esse Deus que os homens criaram
Realmente puder ser a maior grandeza e justiça,
Cabe a Ele sentenciar o que os homens fazem ...