terça-feira, 18 de agosto de 2015

Quando acordo


Quando desperto de meu sono,
Ou mesmo de uma ilusão,
Ainda não sou eu que me percebo ...
É meu corpo que está a tinir sentidos ...
Latejo-me ...
Nessa hora, enquanto se restabelece a percepção,
De alma, de espaço físico,
Sou eu ... o Eu primeiro,
Aquele que tem em si,
O poder de posse de suas medidas,
O alcance do espaço do impensado,
As medulas em ebulição,
E todos os pulsares involuntários ...
Inclusive, nessa hora primeira,
Não sinto culpa, nem vergonha,
Nem me sinto eu, porque ainda não me sou ...
Acho que apenas inconscientemente,
Nessas primeiras respirações,
Nesse primeiro contato com a anunciação do dia,
Vejo que não me permito a insônia,
Vilã maléfica daqueles
Que têm mais esperança do que atitude,
Porque isso não me foi ensinado ...
Mas acordo menos animal do que o dia anterior,
Menos radical, menos bondoso,
Apenas nessa hora onde sinto,
Que meu corpo é meu limite,
Que a ele pertenço,
Assim como ele me pertence ...

Desnudo


Luz e sombra,
Vento e frescor,
Dia e Noite,
Visão e Intuição,
Sol ao dia e Luz a noite,
Vontade de sentir ...
Vontade de ter vontade ...
Liberdade de sentir vontade,
De ser Natureza e parte dela,
Do todo e da forma,
Assim fazer parte ...
Enfiar os pés na terra,
E dela renascer, e crescer ...
Ser água, e nela penetrar ...
E na pele sentir os pêlos balançarem aso vento,
E nessa Natureza dar-se o âmago,
Até a inexistência de todas as vergonhas humanas ...

Mascarado


Quando deixo meu instinto falar,
Fico surdo ... entrego-me !
Deixo meu ego frágil,
Revelar seus negros desejos de destruição,
E violentamente assumo essa carga voluptuosa ...
É meu segredo, que escondo até de mim,
Pois o inconvencional seria,
A forma mais animal e rústica,
Mais prazerosa de incorporar este prazer ...
Sinto necessidade desse romper,
Dessa brutalidade para poder me acalmar ...
Desejo de desejo, por palavra,
Por toque e força instintual ...
E como se esse jogo masturbatório,
Me fizesse jorrar de prazer,
Até escorrer entre as pernas ...
Um combinação de palavras penetrantes,
Braços que se enredam em pegadas fortes,
Línguas hábeis, viscosas a serpentear,
Úmidas e com sabor de prazer,
Pelas minhas entranhas e boca ...
Não peço compreensão e nem misericórdia,
E ainda acho que por mais que atinja um êxtase,
Não trocaria tais hábitos,
Nem tais pecados,
Nem muito menos, tais desejos ...


Entre a casa e o botão

Entre os dias e períodos de placidez,
Existem vazios vazios,
Mas vazios de derivação de coisas mesmas,
As quais me fazem refletir,
Se o que vale a pena em ser,
Pode ser apenas o ser em si ...
Talvez seja esse o sobrenome do tédio,
Ou até mesmo,
O tempo demorado e exaustivo da rotina,
Essa mesma que tortura os ansiosos,
E alimenta os preguiçosos de viver ...
Um pensamento que não me sai do espírito,
É o de ter de concordar com tanta coisa,
Tanta unanimidade disléxica,
Tanta rédea e cabresto, chicote e estribo,
Onde podemos ser tão livres ...
E muito menos exatos ...
Minha alma chora nessa hora e instante ...
Ao ver como escada rolante,
Dá-se essa evolução ...
Que se repete e ganha nome ...
Assim como a leve pressão,
Que prende a casa ao botão ....

domingo, 19 de julho de 2015

Algodão


Temos inocência quase infinita,
Mesmo quando tramamos o próprio mal ...
Pois o mal é a fantasia deliberada,
Daquele que olha o outro com inconstância,
Inveja, Incapacidade e Rancor,
O que não significa possível de existência,
Tudo isso dentro de nós ...
Mas dentre minhas escolhas,
Ainda prefiro as primeiras, as infantis,
Que eram mais impossíveis, corajosas,
Como quem voa com um pulo,
E lê as mentes com um simples piscar de olhos,
E faz as coisas flutuarem com o indicador ...
E nesse tempo, não existia medo de se sujar,
Então deitava no chão de terra, grama e madeira,
Olhava pro algodão do céu ...
Tinham dias que estava repleto de bichos e cores,
E tinham dias em que o cinza e a luz,
Me davam vontade e esperança ...
Mas desde que me levantei desse chão,
Comecei a olhar por outro ângulo,
E de vez em quando, ainda procuro,
Vejo formas diferentes, e me alegro com o que é simples ...


Profecia


Eu queria definir uma forma de desejo,
Onde o desejo sendo desejo,
Fosse algo mais certo,
Inflexível, marcial e então menos eu ...
Eu tenho um defeito de compreender ...
A não-astúcia de tudo explicar ...
E coerências falhas ...
Mas ainda almejo mais do que isso,
Pois o tempo não me corrige ...
Apenas me protela e eu assim consinto ...
Entre a água e o fogo, sou barro ...
Argila seca, que com um se forma,
E com o outro se consolida ...
Mas nunca, nem um e nem o outro ...
E também gostaria de acreditar menos no tempo,
Como um curador de obras primas,
E deixar que as execuções de atitudes pérfidas,
Sejam realmente existíveis ...
E nisso aprender a guardar as minhas agulhas,
E meu talento de remendar ...
E também esquecer a passagem de volta,
E também o outono e o inverno,
E fazer menos ... cada vez menos,
E talvez, embora duvide,
Mais por mim ...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Indumentária para a Vida



Eu tenho pouca habilidade pra me vestir ...
As vezes, de manhã ao acordar,
Tento vestir minha longa capa de compreensão,
Para ser mais vistoso,
Sentir-me mais vistoso pra ser visto.
Só que por debaixo, não ...
Não tenho como esconder,
A nudez crua de minha opinião,
Transformada em algoz dardo,
Essa sendo entendida pelo outro,
Como a tal inveja automática,
Ou simplesmente por discordância dada,
Pela minha incapacidade de vestir essa mesma capa.
Visto-me de idéias investidas,
Pois sou tão temporal quanto as violetas,
Que dizem só germinar,
Na casa de quem tem bom coração.
Assim como também por hábito,
Uso a camisa da burrice do explicar,
Aquela mesma que faz com que você perca tempo,
Explicando ou procurando motivos,
E ensinando os outros a pensar ...
Enquanto que o normal das pessoas,
É terem dúvidas,
E perderem tempo com perguntas esguias,
Que refastelam apenas o pó superficial,
Daquilo que elas gostariam de saber ...


terça-feira, 21 de abril de 2015

Prova dos Nove ou a Regra de Três ( O Entender )

Minto ...
Minto sim ...
Minto até pra mim mesmo,
Quando digo que sei o que Sou,
E quem Sou ...
Tenho falha não calculada,
E deficiência na hora de descrever,
E escrever sobre mim ...
É que pra escrever sobre si mesmo,
Não deveria se usar tanto o verbo "achar",
Assim como eu acho ...
Mas dizem que isso é um tipo de falta de alicerce,
Ou alguma base, sedimentos ...
Não sei ...
Porém me dá uma sensação de liberdade as vezes,
Acho que preencho alguns vazios com música,
Um pouco de leitura, fantasia, e rotina.
Quando digo que minto algumas coisas,
É porque a palavra omitir, parece criminosa ...
Só omite, quem sabe das coisas,
Mas quem mente, as vezes é porque não entende as coisas.
As coisas serão sempre as coisas,
Enquanto elas não são nossas coisas,
Nossas criações, nossos íntimos,
As vezes, a idéia tola do ser puramente nós mesmos,
Não podemos dizer que delas sabemos tudo ...
Mas sei falar de algumas coisas que gosto,
Se possível, delas participo, me entrego ...
E não caio na besteira de dizer tudo o que acho ...
Pois, quando acho coisas, é possível descobrir,
Sempre um pouco mais ...
Basta somar o que hoje eu sei,
Com tudo aquilo que aprendi até ontem ...

Pluralismos, Verbos e Eu

O Eu sou ...
Mas uma vez Eu sendo,
O Eu existe, e não uma única vez ...
Porque pra se existir,
Há a necessidade de inúmeras coisas,
Eu vejo, o que não significa enxergar,
Eu ouço, o que não significa escutar,
Eu falo, o que não significa dizer ...
E tudo perde força, quando comparamos com o Nós ...
Uma vez responsável pela sua vida,
E as vidas alheias, tudo se multiplica,
E implica em tarefas mútuas, simultâneas de angustia,
O que complica na sua observação de si ...
Quando se esta misturado, as vezes não dá pra se decantar ...
Não temos tempo, e perdemos a noção dele ...
Se o Eu, é só um,
O Nós é indefinido pra mais de dois,
Como uma conta de inclusão dos demais ...
Daquelas onde apenas se soma,
Mas os fatores abrangentes não fazem diferença no resultado.
Se toda a ação tem uma reação,
Não necessariamente igual e contrária,
Disso eu tenho certeza, pois a vida não é assim,
Como podemos considerar,
Essa forma velha, constante e enrijecida de viver,
Senão algo a ser redescoberto ?
Eis a lição de casa do amanhã ...



Óleo em Pedra ( Uma Nova Fase )

O quanto é preciso se pensar,
Pra desmistificar um pensamento sugerido ?
Eu não sei, pois pouco importa ...
Só sei que algumas coisas acontecem,
E quando acontecem, deixam seu resultado impresso ...
Temos esse hábito, meio desconcertado,
Jogado pro lado direito,
Com o pescoço entortado,
E depois retoma-se o equilíbrio ...
Essa impressão de não saber lidar com o que te acontece,
Deve ser algo inerente a todos,
Onde você apenas sofre uma ação da Vida,
E não sabe o que fazer, porém segue ...
Assim como quando você consegue algo que muito quer,
E depois não sabe o que está nesse porvir ...
Mas esse não saber agir é tão humano,
Que ele apenas muda de circunstância ...
Mas o conselho que eu dou àqueles que muito querem algo,
Seja uma posição, um alguém, um prazer ...
Lembrando de imediato, que sou péssimo pra conselhos,
Que tenham seus freios desatrelados,
Abram seus peitos e suas mentes para o novo,
A coragem e a possibilidade ...
Porque as consequências,
Ah, as consequências sempre virão ...
Sejam elas pra sorrir pelo segredo,
Ou chorar pelo insucesso ...
Mas até aquilo que você acha difícil ou impossível,
Hoje percebo, que tem um tempo pra acontecer ...
Basta ter o manuseio certos de seus elementos ...
 

Balde de Alegrias ( Parte 1 - Renascimento )

Eu parei comparar a minha vida,
E descobri a semelhança com um balde ...
Balde sim ....
Quem não conhece um balde ?
Desde crianças aprendemos a brinca com potes,
Enchendo-os de areia, brinquedos e lembranças ...
Eu acho que a vida é assim ...
Você a enche, depois esvazia ...
Lava e em breve torna a encher ...
Seja do que quer que for,
Serão suas próprias mãos que o carregarão ...
Acho que nunca lavei meu balde ...
Tem umas coisas que estão no fundo,
Grudadas, seladas, que não dá nem pra raspar !
Muita coisa não dá pra jogar fora,
Então, dá-se um jeito de ser forte pra poder carregar,
E quando vai se ver, elas já não tem peso ...
Olhando de cima, eu vejo as mais leves,
Desde o amor dos meus cães,
Risadas com os amigos, viagens com meu amor,
O meu amor, e o amor de mim mesmo ...
Esse ultimo aparece sempre em que paro um pouco,
Remexo a bagunça de tudo o que carrego,
E as vezes, ele me surpreende ...
Eu nunca reparei bem,
Mas parece que tem um furinho no meu balde,
Porque tem dias em que o sinto mais leve ao carregar ...
Devem ser as tristezas arenosas,
Algumas vinganças liquidas, aquelas com gosto de fel,
Ou até mesmo, algum desentendimento gasoso,
Que evapora e eu não percebo ...
Alias, muita coisa eu não percebo,
Inclusive o peso de meu próprio balde ...

O Porquê do Sol não beijar a Lua

Ao acordar todas as manhãs,
Temos obrigações, pelo menos a da disposição ...
E que essa não seja a mesma do despertar,
Pois quando se desperta, aguça-se os sentidos,
E faz-se do dia, horas,
E das horas, a ansiedade ...
E quando se dá o cair a noite,
Procuramos atender alguns instintos,
Tão primitivos que não nos damos por conta,
Como o da necessidade de proteção,
A liberdade aerada de abismo,
Soltar as amarras do espirito ...
Mesmo assim, não ligamos o dia com a noite,
Como se fossem, um conseguinte do outro.
Revelamo-nos ao dia, as vezes escondendo verdades,
Porque um rebanho só existe,
Com a ideia falsa de homogeneidade.
E nos alentamos no breu da noite,
Onde podemos ser nós mesmos,
Onde muitas vezes o medo,
É maior que a coragem, a disciplina, a sensatez ...
O correto ...
Enquanto o dia, tem a moral e a exposição,
A noite tem o tempo e a desobrigação de ser visto.
Dizem que o Sol é masculino, e a Lua, mulher ...
Mas os astros não tem sexo,
E muitas vezes, acho eu, de uma forma obtusa,
Sem foco, apenas abrangente,
Que nós humanos também deveríamos não ter ...


quarta-feira, 25 de março de 2015

O Cercadinho

Nas vicissitudes do dia,
Achei que estava me perdendo
Mais do que o normal ...
Mas eu sou dessas pessoas
Que acredita que para se achar novos caminhos,
É necessário, no mínimo, estar totalmente perdido ...
Mas como tenho a síndrome do trabalho,
E a da letargia que irrita os neuróticos,
Como saída, um tanto infantil, confesso ...
Criei um cercadinho só meu ...
Mas cercadinho bem simples mesmo,
E lá deixei a minha terra, revolvida,
Adubada de inconsciente, pra deixar nascer,
Aquilo que tiver de nascer ...
Mas escondi num lugar secreto,
Tão secreto, que ninguém pode encontrar ...
E dentro de minhas adversidades,
Não seria lógico, demonstrar sinais,
Nem dar pistas, e sim, deixar ao léu,
E nem cercar de madeiras grossas,
Nem de arame farpado,
Pois tudo o que há de nascer ali,
Sou o "eu" ...
Mas que está imune a essas farpas cortantes ...
Porque renascido em ouro estarei ...

Esôfago

O esôfago me traiu uma vez ...
O que me custou a alma que tinha,
Nesse ato, ele se tornou um nó,
E me derrubou ...
Eu tinha mais coisas pra fazer
Ainda com aquela alma ...Mas faltou o oxigênio,
E nisso eu cai ...
Mas cai pra um abismo que me engoliu,
E só devolveu a carcaça seca ...
Forma de pele oca ... cheia de ecos vazios.
Mas acho que sou seco mesmo,
Desde o dia em que nasci,
Tanto é que não sinto nem o frio
Que os normais sentem ...
Mas acho que somos iguais as velas,
Onde a parafina
É a nossa alma mais nossa coragem,
Que quanto tempo mais passarmos acesos,
Mas nos desgastaremos e teremos medo.
Mas o esôfago um dia me pagará ...
E quando for fazer nó,
Mostrarei que tenho uma garganta de ferro,
E que aprendi a respirar com pulmões novos ...
Essa é a minha prova no momento ...
Neste momento ...
Neste sempre ...



Dores de dente

Os dentes que temos são vivos,
Digo isso porque eles tem sentidos,
Sentimentos mesmo ... complexos.
Tem coisas que eu não sei explicar,
Assim como outras que não quero,
Mas através dos dentes de alguém,
Podemos saber um pouco mais
Da pessoa em questão ...
Se é que questão, uma vez feita,
Haja a necessidade fomentada,
De uma explicação diagnosticada,
Dada em frente e verso,
Por alguém que saiba explicar,
E mesmo assim, negligencia.
Os dentes têm dores próprias,
Tristezas e saúde manifestadas.
Tanto é que se quebram de fraqueza,
Por causa da falta de caráter,
Importância que não lhes foi ensinada ...
E que sofre com a crueldade dada,
Praticada por alguém que não sabe,
O que é um sorriso imperfeito,
Ou uma dor insuportável de verdade.

Das pontuações a serem ditas


Eu leio, e me forço a ler ...
Não mentirei dizendo que gosto,
Pois não tenho a malícia medíocre,
Daqueles que querem parecer,
Ou ao menos tentar passar,
A imagem de culto, inteligente e superior.
Eu leio frases e pessoas ...
Algumas com virgulas e tempos tão grandes,
Que a preguiça em mim se enormece ...
A tal ponto que perco a compreensão.
Em algumas pessoas, vejo espaços,
Mas tão grandes, maiores que os meus,
Coisa tosca de se chamar de lacuna,
Pois a própria lacuna, coisa poética,
Deixa o pensamento com a possibilidade de vagar ...
Enquanto estas mesmas,
Fazem-me criar palavras próprias,
Somente para nomes a elas dar ...
Meu exercício maior é vivificar,
Entonar por mais de uma vez, versos,
Parágrafos inteiros procurando sentido,
Naquilo que dão por idéia, sugestão,
Verdades e sentenças salgadas ...
Eu tenho uma visão obtusa e egoista,
A qual, ata-me as mãos,
E que ao invés de aplaudir,
Pede a Deus, em forma de oração,
Que ilumine esses pensamentos ....

quarta-feira, 18 de março de 2015

Casca de ovo

A Mãe Natureza é perfeita ...
Tanto que fez tudo,
Tudo interligou numa corrente invisível,
Tão delicada, contínua, interrogativa,
Que abrange tudo o que conhecemos,
E o que também não ...
O que parece frágil, nem sempre o é ...
E a perfeição de seus detalhes,
Um enigma que liga o liquido ao gasoso,
Assim como o sólido ao sublimático.
Sendo assim, ela fez o homem,
E este criou Deus, para educá-lo,
Castigá-lo e servir de espelho pra seu Ego ...
Deve ser por isso,
Que dizem que Deus é eterno e incontestável ...
 Mas esse é um mel,
Ao qual não tenho direito de adentrar,
Pois me nego a mudar o que já estava criado,
Assim como a casca dos ovos,
Antes mesmo de eu nascer ...
Mais por respeito a quem necessita disso,
Do que por vaidade minha,
Querer colocar meus olhos a frente dos demais ...
Eu aprendi que o respeito,
Deveria ser a primeira coisa a ser aprendida,
E ensinar aos mais jovens a tolerância,
Que falta nos mais antigos ...
E em nós mesmos também ...

Encarcerado

Eu acredito que tudo posso ...
Mas não sei se posso, tudo o que acredito !
É que na minha mania de me achar,
Penso na segunda opção das coisas,
E nelas justifico muitas vezes,
Minha própria escolha ...
Mas escolho dentro das escolhas,
E nem sempre a alternativa escolhida,
É errada ... porque eu tenho mania de acerto !
Mas acerto dentro de uma margem de erro,
Porque sou uma pessoa difícil de achar
Que errado estou ...
E eu chamo isso de certeza,
Mas, que muitas vezes,
Satisfaço-me dizendo a mim mesmo,
Que as coisas têm de ser assim ...
Eu não aceito o erro.
De simplesmente aceitar que estar errado,
Também é uma possibilidade ...
Igual as frutas que nascem todas da mesma árvore,
Mas nem por isso têm obrigação,
E nem necessidade de terem o mesmo sabor ...
Dentro desta adversidade, quase conformidade,
É que existe a falsa ideia de liberdade,
Onde as pessoas dizem se expressar ...
E ter coragem de enfrentar críticas,
Que muitas vezes,
Elas mesmas semeiam ...

Tempo do tempo

Como se mede o tempo ?
Ou o próprio tempo,
Tem vontade própria de se auto medir ?
Ou será o compasso dado por este,
A fração de que se precisa,
Pra considerar atitudes,
Coordenar ações ou pensamentos,
Pensando ser exato, logo preciso,
Um ponto de evolução nobre,
Desmistificada por uma explicação,
Não necessariamente lógica,
Humana, e um pouco nefasta ?
É uma dúvida tão cruel,
Quanto o sentir o próprio tempo ...
Seja um segundo desgastado,
Prolongado como um piscar de olhos
De uma criança feliz e ingênua ...
Ou a visão de futuro dos velhos,
Que enxergam muito através de seu filtro,
De experiencia, miopia e um pouco de ignorância,
E tem mais passado do que futuro ...
Mas uma verdade óbvia,
É que ninguém esta inerte ao próprio tempo,
Assim como ele põe no meu ouvido,
A sensação de crença ou não,
E em meus joelhos, o cansado das horas,
Ele desenha na nossa pele,
Sua ação e sua cobrança ...



domingo, 25 de janeiro de 2015

Mãos e Sonhos

As vezes, eu ando em asfalto quebrado,
Não porque eu queira,
Mas porque o asfalto, assim como sonho,
Quebra-se de tanto passarmos por cima ...
Tenho meus dias de andar apenas,
Em ruas de paralelepípedos semi-planos,
Inexatos, porque sua natureza os fez assim,
Sem culpa e sem pressa,
Mas com muita semelhança e astúcia,
O suficiente pra se tornarem escorregadios,
Enquanto molhados ...
Inclusive, também caminho as vezes,
Em ruas de terra batida e pedras preguiçosas,
E nessas horas, vêm a minha lembrança,
Que o mundo já foi mais saudável,
E as crianças tinham mais sangue,
E que parcialmente, já fui uma delas.
Essas lembranças me pegam de jeito,
E quando percebo, já estou em cima das guias,
Essas mesmas de dividem o meio fio e a sarjeta.
Mas deve ser porque eu sempre achei,
Que ali era o lugar mais alto do mundo,
Pra quem brinca de fazer castelos de barro,
Ou mesmo de areia,
Decorados com entradas de pedrinhas,
E muros reforçados de esperança e fantasia.
E em algum lugar dentro de si,
Ainda guarda um sorriso, um talento,
De artesão menino, que mexe na argila,
Refastela a areia, e as desavenças,
Sem medo de se sujar, nem de se contaminar,
Com a opinião demolidora alheia,
E molda com palavras, gestos e pensamentos,
O seu caminho próprio ...
Pois essa sempre foi seu maior tesouro,
Sua esperança ...

Pés Cansados

Pés cansados ...
Pés descalços ...
Pés são pés, e não é de hoje.
O que você faz com seus pés,
É que dá a definição daquilo que eles são pra você ...
Que o peso de sua angústia,
Não acrescente a eles maior tarefa,
E que não seja a sua ansiedade,
O motivo deles mais correrem,
Em função de seus desejos,
Frívolos e incontáveis,
Como folhas miúdas de flamboyant,
Caídas em outono passageiro.
Algumas crenças, senão raças,
São avaliadas pelos pés que têm.
Como se o valor da pessoa,
Fosse calculado pelo trato que ela dá,
À tudo aquilo que ela suporta.
Uma coisa que figura o teu alicerce,
Jamais pode ser esquecida ...
Uma vez que as dores,
Sim, as dores existem,
E calculam o máximo sempre,
Pois toda estrutura precisa de descanso,
Matéria em repouso,
Para se solidificar.


Diferença

Confusão nunca foi Contradição,
Talvez apenas uma meia irmã,
Torta, indecisa e despreparada,
Desta mesma, assim como uma manhã,
De estação em transição,
Entre o frio e o calor.
Que não seja fácil explicar uma diferença,
Mas que seja interessante,
Abrir os olhos, assim como se abre uma noz,
Para poder ver vários lados,
E não a verificação passada,
Da antiga história da moeda,
Que pobremente tem apenas dois lados ...
Dificilmente encontramos respostas exatas,
Àquilo que temos como dúvidas mais íntimas ...
Deve ser porque apenas olhamos o fora,
E esse apenas é circundado de brilhantismo,
Excelência e admiração estúpidas,
Reforçadas pela antiga vontade,
De se passar mel no umbigo,
E esperar por beija-flores,
Esquecendo que somos mais propícios,
A atrair formigas, moscas e vodca.
Mas, não mais do que mas,
É nessa condição conflitante,
Que geralmente encontramos Deus e nós,
Escondidos em alguma melodia,
Página de livro marcada,
Ou à noite, na oração, no sono,
No escuro, consigo mesmo.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O Novo


O novo pede o novo ...
E nele se repete, e repete.
O novo é a ansiedade que nasce do nada ...
Mas esse nada pede sempre o novo,
Pede o nascimento,
Pede o sangue, os fluidos,
Pede o próximo passo,
E faz o raciocínio fomentar,
Faz o querer,
Desejar, o criar, a sucessão ...
Assim como o amarelo do semáforo,
Deseja o vermelho,
Ao mesmo tempo que indica atenção,
Sempre me faz querer pisar no acelerador.
O desejo da noite é o amanhecer,
E o do Sol, é a Lua.
Pois o próximo passo,
Antecede o outro a ser dado.
Nisso, nasce a necessidade neurótica,
Da ansiedade desse mais ...
E mais ...
E sempre mais ...
E também, nunca menos.


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O menino que sonha

Certa vez, conheci um menino,
Menino sim, menino-homem,
Desses que tem olhos agateados,
De fala confortável, e conversa redonda ...
Mas ele não sabe disso,
Pois ele virou homem,
Mas no fundo ainda é menino ...
Desses que sonha com amores bons,
Que dão abraços pra dormir dentro,
E fazem cozinhar como forma de carinho ...
Mas o seu grande medo, e esforço,
Assim como todos nós,
É driblar o medo da solidão ...
Mas ele carrega muita história dentro de seu coração,
Assim como em sua mochila.
Pois ele sente vontade de abraçar o mundo,
Assim como gostaria de ser abraçado ...
E ele ainda tem na memória,
Aqueles dias de correr de chinelo de dedo,
E de poeira, com sotaque de quem vem do Norte,
E de um perdão que tem de aprender a dar ...
Mas seu coração é muito grande,
E sempre se acha pequeno, miudinho ...
E pelas janelas da cidade,
Dos trens, dos ônibus e das paredes grafitadas,
Ele passeia e se acha feliz,
As vezes, em segredo até gosta da chuva ( ...)
Pois sempre aprendeu,
Que a Felicidade mora longe ...

Quando se brinca de ser mágico

O som do trovão me lembra muita coisa ...
Lembro da infância rústica, primeira ...
Aquela de andar descalço,
No chão de terra, areia e pedrinhas,
Unhas sujas e idéias mirabolantes ...
Confesso que até hoje,
Ainda acho que tenho um pouco daqueles poderes ...
E inclusive mantenho as unhas sujas,
Porque não posso perder este tesouro (...),
O de ler os pensamentos alheios,
E de achar que os raios são energia pura,
E que poderia cria-los saindo das minhas mãos ...
Mas lembro que nos sonhos,
Eu corria feito animal felino,
E saltava feito fera,
Mas voava alto e sem peso,
Planando numa tranquilidade mortal,
Afinal sempre fui de rapina ...
Mas essa mentalidade infantil me auxilia até hoje,
Pois esse pequeno baú de madeira encantada,
Nunca hei de perder,
Nem esquecer onde o coloquei ...
E por incrível que pareça,
Ainda é dentro desses pensamentos,
Diretos, conclusivos e sem freios,
Assim como as crianças,
Que percebo que há sempre mais em mim,
Por ser descoberto, senão por mim mesmo,
Do que aquilo que posso mostrar aos outros ...

Elementos

O equilíbrio dos elementos,
Sua química, composição,
Elaboração e visual,
É harmonicamente decidido,
Quando sua constelação interior se solidifica.
Eis o porque, o homem,
Classifica desde a Idade Antiga,
Os signos, as eras e até ele mesmo,
Com os símbolos dos elementos.
Mas há quem enxergue,
Um em todos e todos em si.
Pois um está no outro,
Assim como um precisa de todos.
São as condições externas,
Que os organizam,
E dão sinais de sua disposição,
Simbólica e real.
E assim, como os elementos,
Também somos,
Pois não resistimos a eles.

Os homens da Terra

O que é a importância,
Ou o que é importante,
Senão suas próprias origens,
Ou quem dera,
Seus destinos ... ?
O ponto de partida, pessoal, individual,
As vezes, são esquecidos, desmemorizados,
Onde podemos nos confundir,
Quase que sempre ( ...)
Onde queremos e temos que chegar ...
Temos pois, nossa exigência se faz,
Cruel, marcial, direta e modificada,
Porque perdemos a pureza do estado primeiro,
E nos deixamos influenciar,
Seguindo nossos dedões do pé,
E não nos preocupando com nossos calcanhares.
Conheci um povo que me fez pensar isso,
Pois eles ainda eram preocupados com costumes,
E carregavam os hábitos dos avós de seus bisavós ...
Sentavam no chão em roda,
E falavam das mesmas historias repetidas,
Que tinham necessidade dessa repetição,
E de uma linguagem arcaica de gestos,
Que percebi que em algum ponto,
Eu desaprendi ...
E sua despreocupação e estética,
Ainda carregavam os atributos,
Os quais, por capricho e necessidade,
Deixei a erosão desgastar em mim ...